Movido a desafios

  • 22 de dezembro de 2016
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Carmo Dalla Vecchia, com seus traços marcantes, voz segura e olhar penetrante, passa a impressão de ser um ator que chega e preenche o local onde está. Por trás da beleza, que lhe rendeu o título do Look of the Year em 1990 – quando ainda era modelo – está uma personalidade forte e muita irreverência.

Foi em 1994 que iniciou na Oficina de Atores da Globo. De lá pra cá tornou-se conhecido pelo público em trabalhos como Engraçadinha, Cobras & Lagartos, A Favorita, Cordel Encantado, Joia Rara, Amor Eterno Amor, Império e A Regra do Jogo, entre outros, além do filme Onde Andará Dulce Veiga?

Acostumado a mudar de visual e adaptar-se às imagens de seus tantos personagens, Carmo agora tem em sua carreira um novo desafio: o de envelhecer para dar vida a um simpático velhinho de 90 anos. A transformação acontece no musical “Forever Young”, considerada uma das mais lindas e engraçadas comédias musicais europeias.

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A trama se passa em um palco de um teatro antigo que se tornou um retiro de artistas, onde seis grandes atores representam a si mesmos no futuro, em 2050, quando estão quase centenários. Eles aproveitam a ausência da enfermeira para revelar suas verdadeiras personalidades por meio do bom e velho rock ‘n’ roll e mostram que são eternamente jovens.

Escrita pelo suíço Erik Gedeon, a versão brasileira da peça traz, além de Carmo, Paula Capovilla, Vanessa Gerbelli, Claudio Galvan, Marya Bravo. Miguel Briamonte se apresenta ao piano e faz a direção musical. Carmo vive um ex-ator, viúvo, solitário e romântico. Adora rock ‘n’ roll, é divertido e tem um ótimo humor.

No espetáculo, os personagens se confundem com os próprios atores e os nomes também são os mesmos, ou seja, as interpretações são baseadas na “bagagem de vida” dos atores. “Na peça há uma parte de ficção e o que é nosso próprio, pois os personagens são reais. São as nossas referências misturadas com a história”, conta Carmo.

Para construir visualmente os personagens envelhecidos, a equipe do espetáculo tentou primeiramente o látex, mas o material irritava demais a pele dos atores e, em uma sequência de vários espetáculos, passou a ser muito prejudicial. A saída foi partir das marcas de expressão de cada ator e apenas enfatizá-las com a maquiagem. “Ela apenas realça nossas próprias marcas. Tivemos orientação profissional de como fazer isto e deu bastante certo”, conta Carmo.

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Para Carmo Dalla Vecchia é um desafio estar em Forever Young, mas ao mesmo tempo o ator encarou a novidade com determinação e segurança, mesmo este sendo seu primeiro musical. “Nunca vivi esta experiência. Já tinha feito aula de canto, mas não tinha esta vivência e bagagem de musicais que o restante do elenco tem. Mas me senti abraçado pelos demais atores e acreditei que poderia fazer”, conta.

O maior desafio para o ator foi cantar em coro. “Pensei que o mais difícil seriam meus números solos, mas as vozes distribuídas no coro, onde cada ator entra com uma abertura de voz diferente, para mim foi o mais complicado no início”, lembra. Como o personagem de Carmo toca guitarra, o ator testou novamente seus limites ao buscar aulas do instrumento para melhor interpretar suas cenas com ele e surpreendeu a equipe. “Me senti desafiado e feliz. É bom ter metas e desafios que nos impulsionam a conquistar algo”, diz.

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A interpretação de seu personagem velhinho na peça fez Carmo refletir sobre sua própria velhice. “O que imagino para mim é o que vejo com meu próprio personagem: quero estar vivo e atento a tudo o que está ao meu redor, continuar tendo sonhos e ambições. Cada vez mais penso a jovialidade como um estado de espírito. Existem muitos jovens que se portam como velhos e vice-versa”, diz.

Para dar vida ao idoso, um personagem que assim como os demais, canta no musical, Carmo teve que encontrar, juntamente com sua preparadora vocal, como fazer a voz falada de uma pessoa mais velha e como ela cantaria. “A voz falada sofre com as cordas vocais mais frouxas, características do idoso, pois assim como qualquer músculo, as cordas não têm mais a elasticidade e firmeza de quando somos jovens. Para compensar este fato, muita vezes o idoso tende a falar em um tom mais agudo. Por outro lado, quando o personagem canta, também não é igual a mim, que tenho 46 anos. Então foi preciso encontrar esta voz e trabalhá-la dentro da técnica vocal, para que eu como ator pudesse reproduzi-la com segurança, sem forçar”, conta.

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Mas não apenas as vozes tiveram que ser adaptadas ao espetáculo, como também houve uma importante preparação corporal dos atores. “Tivemos uma orientação corporal no sentido de entender as limitações de um idoso e não cair no estereótipo”, contou Carmo. Dedicado a se descobrir da melhor maneira possível no espetáculo, Carmo ainda propôs-se a usar fraldas geriátricas durante alguns ensaios. “Fiz isto porque achei que assim poderia vivenciar melhor o que alguns idosos passam e incorporar a fralda ao personagem, mas acabei, por orientação da direção, não fazendo mais uso dela”, contou Carmo.

A velhice, para Carmo, nada mais é do que um período que reflete as escolhas e comportamentos de toda uma vida. “O que o idoso é, representa como ele viveu e encarou a vida, é o reflexo de seu histórico. Como você vive é o que irá determinar como você será na velhice. Hoje tenho uma outra visão sobre os idosos, sobre seu comportamento, gosto de saber de histórias de idosos que estão em plena atividade e já vi senhores que se parecem muito com o meu personagem em seu jeito de ser. Tenho um olhar muito mais atento ao idoso hoje”, diz.

Como mensagem final, vivendo este personagem tão desafiador, o que Carmo espera com Forever Young? “Espero sempre conseguir comunicar e emocionar, passar uma mensagem de alegria e reflexão. E sim, quero ver o teatro sempre lotado!”, conclui.

 

Fotos: Em Destaque Na Cidade e divulgação