Foi em setembro de 2019 que o grupo RAM – Rede de Apoio às Mulheres surgiu, no Facebook, após o assassinato covarde de uma mulher, Mariana Bazza, em SP. “A morte daquela moça foi o que me motivou a tentar fazer algo para alertar mulheres e tentar mudar essa realidade”, explica Soyara Brazuna, criadora do grupo. Porém, há muito mais tempo ela já realizava esforços neste sentido. “O tipo de ação que temos no grupo é algo que faço desde sempre há uns 40 anos: mulheres apoiando mulheres”, conta.
O exemplo e os ensinamentos vieram da mãe de Soraya, D. Jacyra, que sempre se engajou na luta em favor das mulheres. E destes preciosos ensinamentos maternos Soraya recorda-se com muito carinho. “Como esquecer de nossas excursões pela madrugada, resgatando mulheres que eram espancadas pelos maridos, numa época sem lei Maria da Penha e sem polícia para ajudar? Lembro de cada detalhe, dos planos, dos telefonemas furtivos… parecia um filme, esperar os plantões dos respectivos maridos abusivos, via de regra, em algum quartel. Ela me ensinou a me importar”, diz Soraya.
Levando consigo o coração repleto de memórias afetivas, a gratidão por ter podido conviver e compartilhar momentos únicos com sua mãe e sua admiração pela vida nos pequenos detalhes, Soraya foi trazendo outras mulheres para a sua luta e para dar apoio a outras mulheres. Hoje a RAM conta com mais de 6 mil integrantes.
Para prover auxílio as mulheres que necessitavam, Soraya pedia a cada mulher apoiadora a doação de R$10 e que esta trouxesse mais amigas com o mesmo propósito, o que acontece até hoje. Através das pequenas doações que, somadas tornam-se grandes, é possível ajudar mulheres em situação de desespero. No entanto, a sobrevivência do grupo depende de doações maiores de mulheres que abraçaram o projeto. “A principal ação da rede é levar o abraço de todas do grupo às mulheres necessitadas”, diz Soraya. Prover o básico a quem não tem quase nada é o que o grupo mais faz. “O principal apoio tem sido o combate à fome. Levar alimentos às mães e filhos. Também damos suporte para aluguel, remédios, contas de luz e água”, conta Soraya.
Buscando ampliar a ajuda hoje fornecida, a fundadora da rede gostaria de proporcionar ainda mais para as mulheres que procuram o grupo. “Temos a ousadia e o desejo de promover também a capacitação profissional, pagando algum curso profissionalizante para essas mulheres”, diz Soraya.
Para ela, a maior dificuldade hoje é conseguir doadoras e destinar as doações a quem realmente precisa. Com uma maior quantidade de mulheres atendidas, o grupo também se reestruturou para melhor auxiliá-las. “No início do grupo atendíamos poucas mulheres e com o passar do tempo precisamos nos adequar a nova demanda. Estamos hoje com mais administradoras e buscando parcerias”, conta.
Para participar do grupo e ser uma doadora, basta acessar a página da RAM no Facebook – https://www.facebook.com/groups/962626017439356/?ref=share
Nos ensinamentos da mãe, Soraya encontra forças para continuar o seu belo trabalho e modificar a realidade de muitas mulheres que sofrem. Fica o lindo exemplo de solidariedade e amor ao próximo. “Minha mãe dizia: entre o forte e o fraco, fique do lado do fraco. Entre o branco e o negro, fique do lado do negro. Entre o homem e a mulher, fique do lado da mulher. Entre humanos e animais, fique com os animais. Nunca me esqueço dessas palavras, quando eu ensaiava um ‘mas’ por não entender, ela completava: você nunca vai se arrepender se seguir os que têm menos”, conclui.