Depois de um semestre inteiro de aulas híbridas e incertezas sobre o ensino devido à pandemia, as férias de julho costumam ser o momento perfeito para descansar e recuperar o fôlego antes da segunda metade do ano letivo. Mas será que crianças e adolescentes estão realmente descansando? Embora seja atrativo aos olhos dos jovens, o uso ostensivo de celulares, videogames e outros recursos digitais pode prejudicar tanto o desenvolvimento quanto às relações sociais.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, as telas estimulam a produção de dopamina, que causa dependência e leva a transtornos de comportamento e problemas para dormir. Por isso, o uso diário deve ser limitado. Só que, com a pandemia, controlar esse acesso ficou ainda mais difícil para pais e responsáveis porque é por meio do celular, por exemplo, que crianças e adolescentes fazem de tudo, desde conversar com os amigos até participar das avaliações escolares. Daí a necessidade, ainda mais urgente, de proporcionar momentos de desconexão enquanto estão de férias.
Para a assessora de Educação dos colégios do Grupo Positivo, Giselle Bailo Uflacker, esse é o momento ideal para propor atividades que permitam uma reconexão da criança e do adolescente consigo. “É importante parar e ter um tempo para si. A criança contemporânea geralmente tem muitos compromissos e essa pausa pode ajudá-la a refletir sobre hábitos simples e naturais, até mesmo como a respiração”, explica. Ela lembra que respirar com consciência é um dos exercícios mais simples que existem para tratar questões como a ansiedade, tão comum nos dias atuais.
Estímulo ao ócio é responsabilidade dos adultos
“É preciso incentivar a criança a perceber o ambiente em que está inserida. Em uma praça, um parque ou até mesmo no jardim de casa, observar o céu, a grama, as estrelas ou o movimento das plantas ajuda a suscitar reflexões que são fundamentais para o desenvolvimento humano”, diz Giselle. O conselho se apoia em um número cada vez maior de estudos que apontam: estar conectado o tempo todo é prejudicial para a saúde emocional. Um levantamento publicado no Canadian Journal of Psychiatry acompanhou mais de 3,8 mil voluntários entre 12 e 16 anos ao longo de quatro anos. O resultado mostrou que, quanto mais longo o período de exposição às redes sociais, TV ou computador, maior a incidência de quadros de ansiedade.
Assim como ocorre com grande parte das obrigações de crianças e adolescentes, também o ócio não é natural nessas idades. No que depender deles, qualquer tempo livre será gasto no celular – esse, aliás, é um fenômeno que não se restringe à infância e adolescência, mas acomete também boa parcela dos adultos. O entretenimento fácil oferecido pela internet costuma ser uma tentação. Cabe aos pais, então, conduzir os filhos aos momentos necessários de ócio. “Não é fácil, mas é muito importante estimular que eles se disponham a enfrentar sensações como o tédio, que serve para limpar a mente, relaxar e, de fato, descansar os sentidos”, finaliza.