Educadores são unânimes: a leitura é um hábito que faz bem para o desenvolvimento infantil e dos jovens. No entanto, nem sempre é fácil despertar esse interesse nos mais jovens, por isso, pais e professores sempre buscam novas maneiras de engajar os “leitores mirins”.
Números têm indicado queda de obras lidas por crianças e adolescentes. De acordo com a última pesquisa em 2019 Retratos da Leitura no Brasil, realizada pela Fundação Pró-Livro, Itaú Cultura e IBOPE Inteligência, informa que 31% da população nunca compraram um livro.
Segundo a última pesquisa feita pelo IPL (Instituto Pró-Livro) em parceria com a Abrelivros, a Câmara Brasileira de Livros e o Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), na primeira faixa etária (crianças entre 5 e 10 anos), houve um aumento de 23%, que tem um hábito de leitura frequente.
Mas qual é o “segredo” para chamar a atenção desse público e tornar as crianças e jovens “apaixonados” por livros? “No mundo digital de hoje, em que tudo acontece de forma muito acelerada, pode ser difícil fazer com que a criança ou jovem se sente e se concentre por 20 ou 30 minutos para ler”, avalia o professor de literatura Alencar Schueroff, docente da plataforma online de ensino Professor Ferretto.
No entanto, na visão do professor, nem tudo “está perdido”, e é possível, sim, ajudar o público mais jovem a adotar o hábito de ler, seguindo algumas dicas simples:
Leitura digital
Ainda que crianças e jovens venham passando mais tempo à frente de celulares, tablets e computadores, essas ferramentas podem ser usadas a favor da leitura. “Os eletrônicos podem ser o pontapé inicial para o interesse pela leitura. Para minha ‘surpresa’, tenho 20 mil seguidores no meu Instagram, onde falo sobre Literatura. e tento levar esse universo aos alunos. E na Internet há materiais para facilitar o acesso aos livros”, revela o professor.
No entanto, Alencar ressalta que embora a Internet tenha em muitos casos facilitado o acesso a livros – em parte pelos e-books, os livros eletrônicos, que são fáceis de carregar- esses dispositivos mas não substituem as obras impressas, que são aliados da leitura. “A experiência de folhear o livro é difícil de substituir, é algo mais pessoal e que cria proximidade com a ideia de ler”, comenta o professor.
Histórias em quadrinhos
Outra dica do professor é utilizar os gibis – como são popularmente chamadas as histórias em quadrinhos – também como “porta de entrada” para a literatura. “Eu mesmo, por exemplo, comecei lendo histórias em quadrinhos e daí passei a me interessar pelo mundo das palavras”, conta Alencar.
De acordo com Retratos da Leitura no Brasil, os quadrinhos figuram entre os estilos literários preferidos entre as crianças e os pré-adolescentes. “Isso permite que clássicos sejam adaptados para o estilo e lidos mais ‘facilmente’”, sugere ele.
Obras menores de autores famosos
Jovens não costumam gostar de ler livros extensos com uma linguagem distante da atual. No caso do autor brasileiro Machado de Assis – frequentemente citado entre autores clássicos obrigatórios, por exemplo- pode-se começar por uma obra mais curta de duas ou três páginas, ao invés de já começar com o livro “Quincas Borba”.
“Isso é importante para que o aluno conheça o estilo daquele autor e, aos poucos, vá se acostumando com ele e se inserindo naquele universo. É claro que a linguagem muda ao longo dos anos, mas há, sim, diversas leituras clássicas que podem ser apreciadas por crianças e adolescentes”, afirma Alencar.
Literatura de nicho
Identificar uma leitura de nicho, algum tema que dialogue com o público, também pode ajudar bastante. “Podem ser os livros da série Harry Potter, por exemplo, ou qualquer outro que chame a atenção da criança ou jovem”.
Isso porque, ao indicar ou apresentar livros que não vão ao encontro da maturidade de determinada turma de alunos, a escola – ou os pais- os afasta da literatura. “Contos, livros de poesia, ficção e aventura costumam ter grande apelo entre os leitores mais jovens”, recomenda o professor.
Vai cair na prova
Ler por “exigência escolar” muitas vezes é a maior motivação das crianças e adolescentes para abrir e ler um livro até o final. Mas, ao invés de aplicar uma prova nos moldes tradicionais, pode-se optar por avaliações em grupos ou debates interpretativos do que foi lido, no modelo de saraus.
“Pedir que os alunos leiam uma determinada obra e depois dividam sua opinião com os colegas, dando chance para que discutam ideias e pensem sobre o que leram costuma funcionar bem e ajuda a compreender melhor o livro em questão”, ensina Alencar.
Dar o exemplo
Tanto os professores quanto os pais devem dar o exemplo, não somente falando para que as crianças leiam e apresentando livros como eles mesmos inserindo o hábito de ler em suas rotinas.
“Estar sempre com a leitura em dia ou mostrar que está lendo algo influencia mais as crianças do que simplesmente pedir que elas leiam”, conclui o professor de literatura.