Distúrbios do sono podem ser resolvidos com ida ao dentista
Uma noite mal dormida, com ronco alto e engasgos, pode acarretar muito mais consequências do que olheiras ou os inconvenientes bocejos durante o dia. Mais do que falta de conhecimento sobre os problemas que a apneia do sono traz e que atinge até 40% da população adulta, o que a maioria desconhece é o fato de que a maior parte dos casos pode ser solucionada após uma simples consulta com um dentista. Pessoas que sofrem da doença apresentam, desde sintomas considerados simples – como falta de concentração e irritabilidade – até moléstias graves e risco de morte, por infarto ou derrame cerebral.
Professor de Odontologia na Medicina do Sono da Unidade de São Paulo da Faculdade São Leopoldo Mandic, Marcelo Melo Quintela destaca que o cirurgião-dentista é peça-chave no trabalho multidisciplinar realizado no paciente com apneia do sono.
“É o cirurgião-dentista que está habilitado a confeccionar, ajustar e manter aparelhos intraorais com a finalidade de diminuir o ronco e a apneia até o desaparecimento de todos os sintomas. À medida que o paciente utiliza o aparelho intraoral noturno, ele obtém uma melhora significativa, que devolve o bom sono e proporciona uma maior qualidade de vida”, explica Quintela. O uso dos aparelhos substituiu com eficácia os métodos invasivos, como a correção por cirurgia otorrinolaringológica muito realizada na década de 1990.
Durante a consulta, o dentista identifica o problema e encaminha o paciente para exames específicos que são realizados por médicos especialistas do sono. “Sempre é recomendado o trabalho multiprofissional considerando que os médicos contribuem para o melhor diagnóstico obtido por meio de exames em laboratórios que simulam dormitórios para o monitoramento do sono durante toda uma noite. A partir do diagnóstico preciso, o paciente retorna aos cuidados do cirurgião-dentista capacitado para a confecção do aparelho intraoral de uso noturno e para o acompanhamento e ajustes necessários”, explica Quintela.
Cura total
Quintela aponta que nas literaturas médica e odontológica o índice de solução dos problemas de apneia pode chegar a 100%, sendo que a saúde do paciente começa a ser devolvida à medida que se tem a redução de, pelo menos, 50% do estado inicial. O ronco alto e incomodativo é solucionado do mesmo modo.
A doença é chamada Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e a obstrução à respiração acontece geralmente porque a língua “desaba” sobre os demais tecidos moles da garganta e impede a inspiração, apesar de esforço respiratório.
Sintomas e riscos
Estima-se que 40% da população adulta sofra de algum grau de apneia do sono. Os homens de meia idade e com sobrepeso são mais propensos ao problema – o número de casos entre indivíduos do sexo masculino com mais de 35 anos é duas vezes maior do que em mulheres. “O ronco, a sonolência excessiva diurna e a presença de pausas respiratórias durante o sono são os sinais e sintomas mais comuns relatados pelos pacientes que apresentam apneia”, alerta o profissional da Faculdade São Leopoldo Mandic.
Pessoas com apneia do sono podem apresentar perdas de memória, falta de concentração e irritabilidade. Com o passar do tempo são relatados sintomas como depressão, hipertensão arterial, perda da libido e riscos de acidentes de trabalho ou de trânsito devido à sonolência.
Cuidado com as crianças
Nem as crianças estão livres do problema. “Na infância, os dentistas podem prevenir ou diminuir o agravamento da apneia, fazendo a expansão dos ossos da maxila, melhorando a postura mandibular ou indicando o tratamento da respiração bucal e de problemas nasais por otorrinolaringologistas”, explica Marcelo Melo Quintela. “Não podemos deixar nossas crianças crescerem respirando pela boca!”
Segundo o professor, o quadro apneico faz com que as crianças durmam mal, gerando uma hiperatividade na escola. “Quando não há um diagnóstico preciso, com análise desses sintomas, o problema na infância muitas vezes é confundido ou relacionado ao déficit de atenção”, alerta.
“Sem bateria”
A interrupção do sono por conta das apneias deixa o paciente esgotado fisicamente. A sonolência diurna excessiva é um dos sinais mais claros do problema. Mesmo quando é restabelecido o circuito de circulação do ar e a pessoa volta a adormecer, a qualidade do sono já foi comprometida, o que impede o descanso pleno.
Como as interrupções no fluxo de ar ocorrem diversas vezes com a pessoa que sofre de apneia, isso impede que ele entre na fase do sono mais profundo: o momento necessário que o corpo precisa para descansar e reabastecer as energias.
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